El Niño: um fenômeno a ser observado

O El Niño, nome dado ao aquecimento das águas do Oceano Pacífico, próximas do continente americano, resulta de um ciclo normal da biofisiologia do planeta, no qual há fluxos dinâmicos entre lustros (períodos de 5 anos), de aquecimentos e resfriamentos dos oceanos. Nesse sentido, o fenômeno oposto ao El Niño, chama-se La Niña. Representa o resfriamento do oceano Pacífico acima das temperaturas médias esperadas ano a ano.

Com o câmbio climático, o que se está verificando é a intensificação das temperaturas de aquecimento do oceano Pacífico, a avançar para além da normalidade desse fenômeno. Diz-se que há El Niño quando o avanço da temperatura é de + 0,5 grau Celsius e, La Niña, quando a queda ultrapassa a - 0,5 grau Celsius, com uma tolerância de normalidade para + 1,5 ou - 1,5.

Estatísticas atuais indicam que o El Niño tenderá a ultrapassar esses limites de tolerância da normalidade daqui para frente. Como resultado, tais alterações acabam por afetar o clima e o ciclo das chuvas em todo o continente americano, provocando secas ou chuvas excessivas em regiões diferentes de toda a América.

Essas ocorrências acabam por causar prejuízos econômicos, danos ambientais severos e calamidades públicas e humanitárias, como a que ocorreu em 1997, ano em que o El Niño atingiu a + 2,3 º C, com prejuízos bilionários.

Como não há saída para evitar a ocorrência ou a intensificação do fenômeno, resta ao meio científico prever a sua ocorrência e daí, sugerir medidas preventivas para evitar maiores prejuízos e danos.

Do ponto de vista da sustentabilidade, o El Niño representa o grau de insustentabilidade atual, das agressões das sociedades humanas à capacidade de suporte do planeta que, como resposta adaptativa, acaba por alterar a sua biofisiologia naturalmente em busca de um novo ponto de equilíbrio. Ponto de equilíbrio que não necessariamente será confortável à vida de 8 bilhões de seres humanos. 

Como consequência disso, é a própria espécia humana quem colhe as consequências de seu modo de vida insustentável. Aquilo que James Lovelock chama de "a vingança de Gaia" e esse fenômeno é uma prova cabal dessa ocorrência a ser observado e acompanhado.

Para ler mais:
BEER, Raquel. O El Niño cresceu. Revista Veja. São Paulo, ed. 2440, n.34, ano 48, p. 98-101. 26 de agosto de 2015.