Projeto Bioholos: NFTs para Preservação Ambiental

 Há um ano, já sob a pandemia, começamos, no final de semana do dia internacional do meio ambiente, 7 de junho de 2020, a a realizar atividades de plogging aqui nas proximidades do Parque Nacional do Iguaçu. No transcorrer do ano que se passou, muitos insights vieram, sobre como poderíamos colaborar mais com a temática ambiental nessa região de interesse turístico internacional. Porém, não é fácil se buscar sustentabilidade em algo que, para a maioria das pessoas à sua volta, não tem a mesma importância.

Primeiro Plogging Iguaçu - 7 de junho de 2021
Nesse ano que se passou, durante os vários ploggins que realizamos a cada final de semana, pensamentos sobre como poderíamos colaborar com a preservação privada de áreas de interesse ambiental nas cercanias do Parque Nacional do Iguaçu vieram à mente. A seguir, indicamos a concatenação lógica de ideias que nos levou à criação do  Projeto Bioholos.

Quando participávamos do Conselho Municipal do Meio Ambiente de Foz do Iguaçu (COMAFI), sugerimos a regulamentação local para a criação das RPPNs (Reservas Particulares de Patrimônio Natural), urbanas e rurais. Esse foi o ponto inicial de partida para o surgimento deste projeto.

Essa ideia surgiu quando ministrava aulas no Mestrado em Direito Ambiental da Amazônia, em Manaus (AM), na disciplina de Sociedade Civil e a Efetivação do Direito Ambiental, visitávamos com frequência uma RPPN urbana muito importante, situada bem próximo ao "encontro das águas", buscávamos demonstrar aos alunos, a importância desses instrumentos de ocupação do solo, previstos na legislação ambiental. Por meio de uma RPPN, o local continua a ser privado, porém, sua cobertura vegetal fica protegida de maneira permanente, não podendo mais ser alterada ou diminuída por decisão de seus donos.

Desse modo, criar RPPNs na cercania do Parque Nacional do Iguaçu (PNI), pode se uma forma legal e útil para a preservação de suas bordas, criando-se um anel de proteção privado à sua volta, perante o qual nenhum tipo de agressão ao patrimônio ambiental será permitida.

Outrossim, áreas urbanas nas cercanias do PNI também precisam ser protegidas, dentro do conceito de "microflorestas", o que está previsto no Plano Municipal de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica (PMMA), de Foz do Iguaçu, aprovado também enquanto fazíamos parte do COMAFI.

Essas foram as bases da criação do Projeto Bioholos, cuja missão seria a de adquirir e proteger, por meio da criação de RPPNs, áreas privadas de interesse ambiental permanente, nas cercanias do Parque Nacional do Iguaçu, as quais, futuramente seriam governadas por uma Fundação voltada especificamente para tal finalidade, a qual chamaremos de Chamazen.


Mas colocar isso em prática, o primeiro passo seria o de se buscar a sustentabilidade econômica para este empreendimento.  Teríamos de encontrar uma forma de financiamento privado, disposto a acreditar neste projeto, o qual envolve a alocação de grandes recursos, mas sem um retorno econômico definido do investimento, pois o foco principal se trata da proteção ambiental, com a consequente limitação do uso da propriedade, a qual passaria a ter uma função social definida e não mais passível de mudança.  

Criamos o projeto, um site de divulgação (bioholos.ong.br) e iniciamos a sua divulgação nas redes sociais. Porém, não foi possível obter o apoio necessário e essa ideia gerou pouco interesse, pois não tínhamos os meios certos e nem a forma certa de encontrar as pessoas certas.

Depois de quase ter desistido da empreitada, eis que o segundo trimestre do ano de 2021 nos apresenta a surpresa da tecnologia dos NFTs (Non-Fungible Tokens). Assim que os vimos pela primeira vez, aquilo parecia ser a peça econômica que faltava em nosso xadrez, para darmos seguimento ao Projeto Bioholos.

Hoje, no dia internacional do meio ambiental, 5 de junho de 2021, depois de realizarmos nosso plogging para comemorar essa importante data, resolvemos iniciar os estudos práticos para a criação de NFTs, com a finalidade de ancorar as atividades de proteção de áreas ambientais de interesse internacional. 

Tais NFTs serão o elo entre o meio digital e o meio físico, entre o valor econômico e o valor ambiental, a peça de conexão dessas duas realidades. Trata-se de uma forma lícita de se criar possibilitar o ganho financeiro, ao mesmo tempo em que permite o ganho ambiental concomitante.

Isso ocorre pela natureza infungível do NFT, a qual, por seu turno, será ancorada na natureza infungível do imóvel respectivo, a partir de unidades métricas identificadas geotopograficamente e assim, individualizadas. Ou seja, só haverá um NFT para cada metro quadrado de área preservada.

Desse modo, as microflorestas, rurais ou urbanas, passam a ser o meio materializável e conectável com cada NFT criado, agregando um valor ambiental único e precioso para aquele ativo digital, o qual estará expresso na área protegida efetivamente para sempre, por meio da figura legal da RPPN e da sua gestão por uma fundação, criada especificamente para esse fim.

Os NFTs serão individualmente identificados com as respectivas unidades de geolocalização, garantindo-lhes uma exclusividade, autenticidade e possibilidade de verificação "in loco", no mundo real, da ancoragem material deste criptoativo.

Por seu turno econômico, permitirão ao seu propriedade a valorização, assim como sua comercialização no mercado de créditos de carbono, uma vez que servirão como "token ambiental" garantido, ao passo em que permitirão também a demonstração do comprometimento ambiental desses investidores.

Os NFTs serão mintados por meio de fotografias, pequenos vídeos ou memes, as quais terão conteúdos estéticos diretamente relacionados com a temática ambiental, aspectos específicos da geolocalização de cada NFT ou atividades comemorativas da futura fundação etc.

Criar áreas privadas de proteção ambiental é uma forma legítima e economicamente viável, a partir da sua ancoragem aos NFTs. Isso gerará o chamado ganha-ganha, com investidores podendo adquirir NFTs voltados à temática ESG, ao mesmo tempo que se valorizam seus ativos, pela especificidade e exclusividade de cada área ambiental protegida no mundo real.

Esse é nosso maior projeto, a contribuição para a qual desejamos deixar enquanto marca pessoal para a vida neste planeta. Espero que essa ideia multiplique-se e que tais caminhos sirvam de inspiração a mais e mais pessoas seguirem essa ideia, para que futuramente a Natureza recobre seu valor e mantenha-se protegida e intacta. 

Aqui estará a proposta valiosa da ponte econômica e ecológica entre o digital e real. Bem-vindos à essa revolução ambiental que se aproxima.